Ainda está no campo da experimentação, mas cientistas americanos apresentaram a primeira árvore transgênica capaz de absorver de forma rápida uma quantidade significativa de poluentes do solo. O estudo, publicado no mês passado no periódico da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, abre novas possibilidades à fitoremediação, técnica que utiliza plantas para remover ou reduzir substâncias tóxicas no ambiente.
Para os cientistas, é um avanço e tanto: até então, as pesquisas emperravam na baixa capacidade de absorção de poluentes das plantas convencionais e no longo tempo que elas gastavam para fazer isso.
Agora, com o anúncio da Universidade de Washington, em Seattle, os holofotes voltam-se para o álamo, árvore de casca lisa e acinzentada típica dos países de clima temperado. Os cientistas mostraram que a espécie geneticamente modificada consegue absorver até 91% de tricloroetileno, o contaminante mais abundante no solo americano. Utilizado sobretudo por indústrias, como solvente, a substância é considerada cancerígena. O álamo convencional absorve apenas 3% do poluente.
A planta transgênica também conseguiu sorver o contaminante em uma velocidade 53 vezes maior que a convencional. "Isso é importante porque a fitoremediação é vista como uma forma lenta de solucionar contaminações em larga escala", explicou ao Valor o engenheiro ambiental Stuart Strand, co-autor do estudo. "Por isso, em vez de serem limpas, muitas áreas contaminadas acabam sendo simplesmente abandonadas", afirmou ele.
Estima-se que existam hoje nos EUA cerca de 12 mil áreas extremamente contaminadas e outras 500 mil propriedades comerciais contaminadas abandonadas no país.
"É um problema mundial, e por isso pesquisadores dos EUA, da Europa e da Ásia trabalham há anos no mapeamento de espécies acumuladores naturais de cada país", disse Strand. Ele explicou que a fitoremediação é mais atraente do ponto de vista ambiental e econômico se comparado a outras técnicas - uma delas é sugar a água do solo e deixar que os contaminantes evaporem. "É destrutivo e caro", disse.
O que se conseguiu com o álamo transgênico foi justamente acelerar o processo de quebra do tricloroetileno com a manipulação de uma enzima-chave - a P450 2E1, advinda do gene de um coelho-, responsável pela transformação do poluente em subprodutos inócuos à saúde e ambiente.
Além disso, o álamo transgênico teve boa resposta na remoção de clorofórmio (usado como anestésico), cloreto de vinila (plásticos) e tetracloreto de carbono (solvente). Pesquisas com espécies de 15 centímetros, mantidas em recipientes fechados, também conseguiram capturar mais gases poluentes que a planta convencional.
Sua comercialização, no entanto, não é possível ainda. Os cientistas de Seattle precisam agora testar a planta fora do laboratório, em uma situação real em que ela possa atingir o seu tamanho normal. Isso levará mais três a quatro anos.
Outro entrave é que a pesquisa com transgenia nos EUA é limitada a campos experimentais. "Cada área contaminada terá de ter permissão especial para usar a planta. As regras são cada vez mais rígidas e o controle é alto", disse Strand.
Muitos americanos vêem organismos geneticamente modificadas com suspeita. Mas os pesquisadores defendem que o álamo é uma boa escolha. Um fator de biossegurança é que a espécie cresce rapidamente e passa de sete a dez anos sem florescer (o que pode ser evitado também com poda preventiva). E ao contrário de outras árvores, garantem, os ramos da espécie transgênica não originam outras árvores quando caem no chão. FONTE: Valor Econômico ? SP