Niza Souza
Enquanto o governo brasileiro discute com a União Européia o tamanho da lista de fazendas que serão habilitadas a exportar carne bovina in natura para o bloco, os preços da arroba bovina aqui no Brasil seguem em alta. As cotações chegaram a ter ligeira queda no início do mês, após o anúncio do embargo europeu. Mas não durou muito. Na semana passada, os preços voltaram ao patamar anterior ao embargo, nas principais praças. Em São Paulo, a arroba era cotada em R$ 75 na sexta-feira, dia 15. E a expectativa de analistas e dos pecuaristas é a de que o preço continue subindo.
Há vários fatores que explicam a reação positiva. O principal, dizem os analistas, é a regra básica do mercado: a lei da oferta e da procura. Como a pecuária está passando por um ciclo de baixa produtividade, é natural que as cotações estejam subindo. Além disso, o mercado interno consome cerca de 80% da produção, que é de 10,42 milhões de toneladas ao ano, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
VOLUME INSUFICIENTE
Dos cerca de 2,1 milhões de toneladas exportados, 25% vão para a União Européia. Fazendo as contas, o montante de carne exportado para a UE representa menos de 5% da produção brasileira. 'Neste momento de pouca oferta, esse volume é insuficiente para influenciar os preços internos', afirma o analista José Vicente Ferraz, da Agra FNP.
Assim que foi anunciado o embargo, ressalta Ferraz, os frigoríficos tentaram baixar os preços, mas não conseguiram comprar nada. As escalas de abate caíram para dois a três dias. Alguns frigoríficos chegaram a ficar ociosos. E as cotações voltaram a subir.
Ferraz explica que, a partir do segundo semestre de 2007, a pecuária entrou no início de um novo ciclo: de baixa produção e alta de preços - conseqüência do grande número de matrizes abatidas nos últimos anos, o que causou queda da oferta de bezerros. 'Quanto tempo vai durar esse período, depende da velocidade com que o pecuarista vai começar a reter fêmeas em grande quantidade', analisa.
MENOS MATRIZES
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam a tendência de redução do plantel de matrizes. Conforme o IBGE, em 1998 abateram-se 3,8 milhões de vacas, número que foi aumentando ano a ano e em 2006 chegou a 11,2 milhões.
Se a oferta de gado pronto para abate estivesse em bons patamares, complementa o consultor Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, os preços poderiam ter despencado. 'Pode-se dizer que o produtor brasileiro deu sorte que o embargo da União Européia veio num período de oferta relativamente enxuta', diz. 'Sempre que ocorre algum problema na venda de carne, seja no mercado interno ou no externo, os frigoríficos iniciam as pressões baixistas. Se não há respaldo da oferta, dificilmente o mercado recua.'
INFORMAÇÕES: Sites: www.scotconsultoria.com.br e www.fnp.com.br FONTE: Estado de São Paulo ? SP