Terras do perímetro irrigado Jaguaribe-Apodi, na divisa do Ceará com o Rio Grande do Norte, são disputadas por empresas de fruticultura, pequenos agricultores nativos e até pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Dos 5.400 hectares do perímetro já implementados, 2.600 estão sem cultivo algum.
Diante das terras ociosas e dos canais d'água que passam no meio delas, 160 agricultores que já foram irrigantes da área, mas que tiveram de entregar seus lotes para cobrir dívidas, ameaçam até invadi-las para começar a trabalhar.
Água não é problema na região, garantida pelo rio Jaguaribe, que foi perenizado pelo açude Orós. O que impede que as terras estejam sendo totalmente cultivadas é, para os agricultores, a especulação imobiliária, pois a área será beneficiada pela transposição do São Francisco.
"Um hectare de terra valia antes R$ 40. Depois, já foi vendido por R$ 1.400", disse José Maria Filho, da Associação dos Ex-Irrigantes do Projeto Jaguaribe-Apodi. "Essa terra é muito fértil. É só ter água."
Os 160 agricultores estavam entre os beneficiados do perímetro quando o projeto começou a ser implantado, no final dos anos 80. "A gente começou a colher muito, uma safra muito boa, mas não via o retorno", disse Luís Ferreira da Silva, 72, um ex-irrigante. "Foi então que descobrimos que a nossa cooperativa tinha feito uma dívida enorme e não pagou nada. Sem dinheiro para produzir, o jeito foi entregar as terras", disse José Maria.
O que antes eram lotes destinados a pequenos agricultores passou a ser de empresas, que só os utilizam parcialmente. "O perímetro, por si só, está irregular, pois não há controle algum sobre a posse dessa terra", disse o procurador Samuel Arruda. Ele solicitou à Justiça que o Dnocs faça a demarcação da área para estabelecer um novo espaço para os pequenos agricultores.
Só 15 pequenos agricultores da área irrigável não entregaram suas terras, permanecendo com um lote de 7 hectares cada um. FONTE: Folha de São Paulo ? SP