Um levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), divulgado em abril, sobre os índices de resíduos agrotóxicos encontrados em nove culturas agrícolas, recebeu grande espaço na mídia, mas pareceu deixar de fora aquele que trabalha diretamente com esses produtos e que, portanto, está mais exposto a contaminações: o trabalhador rural. Os veículos de comunicação deram grande ênfase aos prejuízos dos resíduos agrotóxicos ao consumidor, no entanto este não era o objetivo do levantamento.
Segundo o gerente geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles, a importância de se esboçar o perfil da contaminação dos alimentos é proteger não apenas aqueles que o consomem, mas também elaborar ações de boas práticas agrícolas que garantam a saúde do trabalhador rural.
Em relação aos riscos ao consumidor, os dados obtidos pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), revelam que 17,28% das amostras analisadas em 2007 apresentavam quantidades de resíduos acima do limite permitido pela lei ou indicavam uso de agrotóxicos não autorizados para as culturas em questão. O tomate, o morango e a alface foram os alimentos com maiores índices de contaminação.
Por outro lado, há substâncias encontradas nas amostras que são proibidas pelos riscos que representam para quem aplica o produto. Segundo o relatório, o monocrotofós, por exemplo, substância que foi encontrada no tomate, não deveria ser utilizado desde 2006, pois oferece grandes riscos ao aplicador.
Há também agrotóxicos vetados apenas em algumas culturas. É o caso do metamidofós, que foi detectado na amostra de tomate consumido "in natura". Nessa cultura, a aplicação da substância é feita com equipamento de bombeamento manual, o que expõe o aplicador à substância e ao risco de intoxicação. A utilização do metamidofós é autorizada apenas no tomate de plantio rasteiro (industrial), que permite aplicação por via aérea, trator ou pivô central.
A não observância das boas práticas agrícolas é considerada a principal responsável pelo alto índice de amostras insatisfatórias detectadas pelo levantamento. O pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas, Hamiltom Humberto Ramos, alerta para que o agricultor sempre observe se determinado agrotóxico é mesmo recomendado para a cultura em que será utilizado, e se a previsão de tempo esperada entre a aplicação e a colheita está dentro do período de carência. Essas informações são encontradas nos rótulos e bulas dos produtos.
Segundo Meirelles, o levantamento feito pela Anvisa é encaminhado para o Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa), que é o órgão responsável por tomar as medidas que corrijam o problema no campo. Entre as ações planejadas pelo ministério estão campanhas de educação voltadas para os agricultores, já que a desinformação é a origem de diversas irregularidades encontradas nas amostras. FONTE: Blog do Sidney Rezende/SRZD - 12/05/2008