O valor das colheitas nos Estados Unidos, representando 51% da produção agrícola, deve atingir o montante recorde de US$ 176 bilhões este ano, graças a alta de preços das commodities.
Com essa cifra, a Organização Mundial do Comércio (OMC) busca mostrar em relatório sobre a economia dos EUA que Washington pode bem assumir compromissos de liberalização agrícola na combalida Rodada Doha.
Medido pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o total de subsídios distorcivos agrícolas americanos representou 11% da renda dos agricultores do país em 2006, uma queda de cinco pontos em relação a 2004.
Algumas commodities, como o açúcar e o leite, continuam, porém, a receber enormes subvenções. A OMC adverte que alguns programas "podem ser inconsistentes com os sinais do mercado e afetar comércio". Washington, porém, resiste a assumir compromisso amplo de cortes.
Produtos como carne bovina, lácteos, etanol, açúcar (e produtos com açúcar) e tabaco continuam submetidos a enormes tarifas para entrar no mercado americano. Estudo da Comissão de Comércio Internacional dos EUA estima que a derrubada de barreiras de importação de açúcar expandiria as importações em 281% e de refinado em 553%, gerando um melhora na renda para a sociedade no valor de US$ 811 milhões, pois se pagaria menos pelos produtos.
A OMC mostra que, além de assistência a exportação, os produtores americanos recebem uma série de ajudas também no nível estadual. Os EUA notificaram 430 programas de subsídios a entidade, dos quais somente 42 eram federais. Agricultura e energia são de longe os maiores recipientes de ajuda. A produção de biocombustível recebeu pelo menos US$ 2,7 bilhões em 2006.
A entidade nota que o Departamento de Agricultura encontrou "pouca ou nenhuma evidência" de que consumidores americanos estariam dispostos a pagar um prêmio por produtos com etiqueta indicando que são locais.
Maior produtor mundial de produtos industriais, os EUA continuam porém mantendo enormes tarifas para a entrada de têxteis e calçados, principalmente, tentando evitar a concorrência internacional.
A OMC destaca também que medidas antidumping (contra produtos vendidos a preços deslealmente baratos) continuam a ser centrais na política comercial americana. Ao final de 2007, Washington mantinha 232 medidas, com sobretaxas de até 28%, "afetando significativamente os preços domésticos".
Os produtos mais afetados são siderúrgicos e químicos. Embora temporárias, as sobretaxas duram até 11 anos. Os EUA resistem a rever o acordo da OMC sobre medidas antidumping, para continuar com flexibilidade suficiente para frear importações.
A OMC, xerife do comércio mundial, aborda outro debate quente da atualidade: restrições a exportações. Os EUA são os primeiros a protestar. De fato, taxar as exportações é proibido pela Constituição americana. Mas a OMC sublinha que o país mantém efetivamente restrições e controles à exportação por razões de segurança nacional, política externa e para resolver problemas de abastecimento de "produtos escassos".
Nas negociações na OMC, os EUA fazem pressão sobre Brasil, Índia e outros emergentes para liberalizarem ao máximo os serviços financeiros. A conclusão da entidade, porém, constatando os estragos da crise financeira nos EUA, é a necessidade de melhorar a supervisão financeira, ou seja, de mais regulação. (AM) FONTE: Valor Econômico - 08/05/2008