A exuberância do Jalapão é conhecida internacionalmente. Mas, o contraste entre o social e os encantos das cachoeiras e dunas é marcante. A região ainda possui baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Tocantins. A chegada de empreendimentos agrícolas pode contribuir para a melhoria de vida da população, e o investimento em bioenergia surge como uma importante opção.
O Jalapão compreende os municípios de Ponte Alta do Tocantins, Mateiros, São Félix do Jalapão, Novo Acordo, Santa Tereza do Tocantins e Lagoa do Tocantins, com uma área total de 34 mil km². As cachoeiras da Velha, Formiga e o Fervedouro são algumas das principais atrações. Turistas de vários cantos do mundo são seduzidos pela região, mas o acesso e a infra-estrutura local para atender a esses visitantes ainda precisam de novos investimentos. As maravilhas exóticas ainda não são capazes de manter a economia das cidades que compõem o recanto da beleza tocantinense.
Além da natureza, o Jalapão abriga uma porção de latossolos propícios para a agricultura, localizados na Chapada das Mangabeiras, divisa natural entre os estados do Maranhão, Piauí e Bahia. O secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Tocantins, Roberto Sahium, diz que a altitude diferenciada do lugar favorece o desenvolvimento da olericultura (legumes e hortaliças), em especial o alho e cebola, além de grãos e cana-de-açúcar.
Mateiros é um dos municípios que abriga boa parte da área agricultável do Jalapão. O local possui cerca de 1,8 mil habitantes, que contam com 10 escolas e um pequeno hospital. A população vive basicamente do artesanato e agricultura de subsistência.
Desenvolvimento econômico A chegada de investidores está mudando paulatinamente o cenário de Mateiros. De acordo com o coletor da prefeitura, Manoel Francisco de Sousa Brandão, em 2007, o município arrecadou com os empresários rurais aproximadamente R$ 640 mil. Segundo Sousa, esse recurso foi aplicado nas construções de uma escola com capacidade para 400 alunos, 02 postos de saúde e um loteamento com 80 casas populares, esse último em andamento. A execução desses serviços está sendo realizada em parceria com os governos federal e estadual.
A Agrícola Rio Galhão é um exemplo de empreendimento que acreditou na rentabilidade dos negócios realizados com energia renovável em Mateiros. A empresa há 22 anos trabalha com o cultivo de grãos e cana-de-açúcar em São Paulo. O grupo possui fazendas e é sócio de usinas de álcool naquele Estado. No Tocantins, a empresa possui 2,4 mil hectares plantados com soja e milho, além de um pequeno experimento de cana. A Rio Galhão patrocinou o IAC - Instituto de Agronômico de Campinas com o intuito de analisar a viabilidade da cultura na região.
De acordo com o diretor da empresa, Sérgio Bueno, a proposta é implantar uma usina de cana em Mateiros que vai gerar 3 mil postos de trabalho. Ainda segundo Bueno, o início da construção dependerá do término da pesquisa. "Os primeiros testes já mostraram uma boa adaptação da cana, mas os resultados finais vão nos dar exatidão quanto às variedades mais indicadas", pontua.
Adelsson Ribeiro de Matos é um dos moradores de Mateiros contratados pela Rio Galhão. Anteriormente, Ribeiro morava com a família na zona rural e vivia da agricultura de subsistência. Ele relata que o trabalho na fazenda melhorou a vida dele. "Com o dinheiro certo todo mês, consegui reformar minha casa. Hoje temos uma alimentação melhor e ainda me sobra um pouquinho", diz.
Pesquisa Em parceria com a Seagro, a Agrícola Rio Galhão realizou o 1º dia de campo ?Cana-de-açúcar e Desenvolvimento do Pólo Sucroalcooleiro de Mateiros?, que reuniu personalidades públicas e políticas dos estados de São Paulo, Bahia e Tocantins. Durante o evento o pesquisador do IAC e coordenador do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Cana, Marcos Guimarães de A. Landell, apresentou os resultados da primeira etapa de seus estudos nessa localidade.
Landell acredita no potencial da região para a cana-de-açúcar. O pesquisador fala da necessidade de se criar uma rede experimental no cerrado, e identificar os principais ambientes de produção para a referida cultura, não se restringindo ao Jalapão. "É importante não apenas gerar uma informação isolada. Podemos compará-la (resultados da pesquisa) com as de novos locais, interpretar o porquê do bom desempenho daquela variedade e assim ter-se uma interpretação melhor daquela informação local", reforça.
Meio ambiente A cana deixou o estigma de cultura degradante. Há alguns anos, usineiros poluíam rios com a vinhaça (resíduo resultante da obtenção do etanol). Atualmente, esse produto é utilizado na própria lavoura como adubo. Um outro alvo de críticas dos ambientalistas é a queima, procedimento utilizado antes da colheita. Muitos produtores optam pela mecanização da lavoura, o que dispensa o fogo nas palhas, que ainda são utilizadas na nutrição do solo.
A produção ambientalmente correta é necessária, caso contrário sofrerá embargo comercial. Para o economista da UFT - Universidade Federal do Tocantins e pesquisador de desenvolvimento econômico Fernando Jorge Fonseca, toda atividade econômica causa impactos e, apesar de o mercado ser um forte redutor desses, é importante a existência de uma legislação específica que oriente melhor o setor produtivo. "É importante que haja políticas públicas que minimizem a degradação do meio ambiente", pontua.
A implantação de grandes empreendimentos gera divisas e empregos. As arrecadações possibilitam investimentos em infra-estrutura, melhorando o lado social dos municípios. O diretor da Agrícola Rio Galhão, Sérgio Bueno, informa que neste ano, a empresa contribuirá em R$ 500 mil com impostos municipal e estadual. Os dados dão a dimensão das melhorias que empreendimentos desta natureza podem trazer. FONTE: A Notícia/TO - 03-04-08