José Maria Tomazela - O Estado de S.Paulo
Produtores viram a noite para recuperar o atraso no plantio da safra de verão, causado pela longa estiagem. A chegada tardia das chuvas no fim de outubro encurtou de quatro para dois meses o período para semear a soja e o milho, as duas principais culturas brasileiras de verão.
Mesmo assim, a previsão é de safra recorde: o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), anunciado em meados de outubro, projetava produção de 135,5 milhões de toneladas de grãos, 3,8 milhões a mais que a safra anterior.
Os produtores têm pressa, pois há a expectativa de preços bons. No sudoeste paulista, a principal região produtora de São Paulo, na semana passada, os faróis das máquinas rasgavam a escuridão como vaga-lumes gigantes. O trabalho na terra se estendia aos domingos e feriados. ''''O tempo ficou curto e estamos no campo 24 horas por dia'''', diz o agrônomo João Jacinto Dias, administrador da Fazenda São Paulo, em Taquarivaí.
SATÉLITE
Ele mobilizou 100% da frota de máquinas para cobrir 3 mil hectares de área plantada. Os equipamentos têm GPS, um sistema de posicionamento por satélite, o que permite com precisão o trabalho noturno. As chuvas, esperadas com tanta ansiedade, agora são o principal obstáculo. ''''Quando cai uma pancada, o pessoal cobre as máquinas no campo mesmo. Assim que a chuva dá uma trégua, volta a plantar.''''
Todo esforço é para garantir que, até o fim do mês, esteja tudo semeado. A Fazenda São Paulo apostou mais no milho, cultivado em 60% da área - os outros 40% foram destinados à soja. Dias explica que o cereal foi negociado de forma antecipada, ao preço de R$ 21,50 a saca de 60 quilos.
Ele acredita que, no pico da safra, entre abril e maio, o preço do milho cairá. ''''A oferta aumenta muito.'''' Em contrapartida os criadores de frangos e suínos terão de ir às compras, pois estão com pouco estoque. Na safra passada, o milho foi vendido à média de R$ 19,00.
O custo de produção, no entanto, também teve alta de 26% nesta safra. A fazenda consegue média de produtividade de 136 sacas de milho/hectare, sem irrigação. A soja, ao contrário, só será comercializada no período da safra, entre março e abril. O atraso no plantio, segundo ele, tem um lado positivo: a incidência da ferrugem deve ser menor. ''''Quando mais cedo planta, mais aparece a ferrugem'''', diz.
PREÇO BOM
O produtor Nelson Schreiner, de Itapeva, dividiu a área entre a soja e o milho. A tendência para as duas culturas é de preço bom, mesmo na safra. ''''A agricultura está em recuperação'''', diz, lembrando que há dois anos os preços estavam muito baixos e o cereal chegou a ser vendido por R$ 11,50.
O atraso no plantio causado pela estiagem aumentará o risco para o milho, segundo ele. ''''A produtividade pode não ser tão boa.'''' Para compensar, plantou com espaçamento reduzido - em vez de 80 centímetros entre linhas, ele deixa 50. ''''Espero um ganho de 15% de produção por hectare.''''
O adensamento favorece a cobertura do solo e gera mais palha para o novo plantio. As terras do produtor, na Estância São Carlos, são modelares em cuidados com o solo. Além da adubação farta, acumulam a palha das safras anteriores para o plantio direto. Não espanta que ele consiga 148 sacas de milho/hectare, sem irrigação. A soja rende 54 sacas por hectare. Schreiner antecipou as compras de adubo para abril e lucrou: de lá para cá os preços subiram 20%.
INFORMAÇÕES: Casa da Agricultura de Itapeva (SP). telefone (0--15) 3522-0177 FONTE: Estado de São Paulo ? SP