Brasília - Se a alta dos preços das commodities agrícolas tem sido alvo de protestos por parte de organismos internacionais, os produtores, por sua vez, não têm tido ganhos significativos com a valorização dos produtos agrícolas que cultivam.
Célio Porto, secretário de Relações Institucionais do Agronegócio, do Ministério da Agricultura, por exemplo, disse que o aumento do barril de petróleo tem pressionado o preço dos insumos, o que reflete no preço dos produtos e numa margem menor de lucro para os produtores.
"O que a gente tem verificado é que, por causa do aumento dos preços do petróleo, o preço dos insumos subiu mais do que os dos produtos agrícolas. Então, essa é a grande questão hoje: haverá espaço para redução substancial dos preços agrícolas, já que os preços dos insumos subiram?", observou Porto, em entrevista à Agência Brasil.
O secretário observou que, na década de 70, houve duas altas significativas dos preços dos alimentos, mas nenhuma delas durou mais que 12 meses.
Na 30ª Conferência Regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), realizada semana passada em Brasília, seu diretor-geral, o senegalês Jacques Diouf, afirmou que, geralmente, a alta nos preços dos alimentos é acompanhada de aumento da produção na seqüência, o que faz com que os valores dos produtos recuem e haja um equilíbrio.
Mas, segundo ele, com a guinada nos preços dos insumos agrícolas, os produtores dos países pobres terão dificuldades, e a produção não deve crescer o esperado.
Segundo Diouf, o preço do trigo, matéria-prima do pão, aumentou 72% nos últimos meses. E o preço dos fertilizantes cresceu 59%. No plantio de algumas culturas, como a soja e o milho (que representam mais de 70% do volume de grãos produzidos no Brasil), os gastos com fertilizantes podem ultrapassar um terço do custo de produção. Para piorar a situação dos produtores brasileiros, os preços internacionais ainda não foram repassados completamente para o mercado interno.
Dados compilados pelo ministério da Agricultura, a partir da balança comercial e de informações de mercado, o valor da uréia, do superfosfato simples e do cloreto de potássio, principais produtos usados na fabricação de fertilizantes, aumentaram, respectivamente, 57%, 78% e 90% no mercado internacional, entre fevereiro de 2007 e 2008. No mercado interno, o aumento foi de 23%, 55% e 42%, respectivamente.
Segundo o coordenador-geral de Análises Econômicas do Ministério da Agricultura, Marcelo Guimarães, mais reajustes devem ser feitos com os próximos carregamentos que chegarem ao país. O Brasil importa cerca de 70% dos fertilizantes que consome.
O agricultor Ademir Rostirolla, que vive da produção de soja há mais de 35 anos, no município de Campos Júlio (MT), reclama da alta dos insumos. "No ano passado, comprei adubo a US$ 300 a tonelada e, neste ano, está em torno de US$ 750. Subiu 150% a tonelada de adubo que é o principal insumo usado na produção de alimentos". O sojicultor complementa: "se o governo quer dar comida barata, tem que achar um mecanismo para baixar os custos de produção".
Estima-se, por outro lado, que a produção nacional de fertilizantes vá aumentar, justamente por conta dos preços altos do produto importado. "Mas a resposta é mais demorada que na agricultura. A agricultura responde em seis meses, uma planta industrial leva mais tempo para ser instalada", afirmou o secretário de Relações Institucionais do Agronegócio.
Já o dirigente da FAO defendeu uma política de preços para os produtos agrícolas que mantenham os agricultores em suas propriedades, para que não se repita o exemplo chinês. Lá, milhões de trabalhadores rurais se deslocam para os centros urbanos a cada ano. Assim, além de menos pessoas trabalhando no campo, o consumo cresce a níveis muito elevados. "Em 20 anos, o consumo de carne por habitante na China cresceu de 20Kg para 50Kg", disse.
Por conta do aumento da demanda e dos preços dos fertilizantes, o governo chinês taxou em 135% as exportações do produto, praticamente anulando a venda para outros países. A China é um dos maiores produtores mundiais de fertilizantes.
Estudos da FAO indicam que o aumento da demanda por fertilizantes deve crescer 1,4%, ao ano, até 2011. Já a oferta, de acordo com os investimentos da indústria do setor, crescerá 3% ao ano. Entretanto, é provável que os preços continuem elevados até lá. FONTE: Agência Brasil - 22-04-2008