A percepção do povo é que fora a gasolina e o diesel os preços aumentaram, mas como esses itens têm um peso grande no índice que mede a inflação, o IPCA, a inflação caiu. Parte da queda foi causada pela iniciativa do governo e do Congresso Nacional de reduzir as alíquotas do ICMS, e que terá um custo para o País na forma de redução da arrecadação do governo e, portanto, teremos menos recurso para saúde e educação, por exemplo, principalmente para os estados. O governo achou que a inflação dos combustíveis iria incendiar o ano eleitoral, e que era melhor tomar esta decisão do que esperar uma queda do petróleo cair do céu. A fortuna, contudo, parece também ter ajudado derrubando o preço do petróleo no mercado internacional, apesar da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Também houve queda no preço da eletricidade residencial, -10,77% no acumulado dos últimos 12 meses. O problema é que a redução se concentra em poucos itens e o IPCA contém centenas deles, muitos dos quais continuam subindo bem acima do índice geral. No acumulado do último ano, o índice geral subiu 10,07%, alimentos e bebidas 14,7%, o diesel 61,98%, o leite e seus derivados 41,22%. Com a queda do último mês, a “inflação da gasolina” recuou para 5,65% em 12 meses.
É preciso lembrar de que, em maio de 2019, o preço do litro era de R$ 4,37 e chegou ao mês de junho deste ano a R$ 7,39, segundo a ANP. E que, no acumulado do governo Bolsonaro, o item acumula alta de 39,9%. O “desconto” no preço da gasolina é uma espécie de “black friday” eleitoral, e o consumidor precisa ficar atento. Não há dúvida de que alívio nos combustíveis e energia é positivo. Mas, isso não quer dizer que a inflação será baixa este ano. Ao contrário, dificilmente chegará a dezembro abaixo dos 10%, o que deve fazer com que o Banco Central continue o aperto monetário, com a elevação da taxa de juros básica – a Selic.
Apenas nos primeiros sete meses do ano a queda do preço da gasolina foi de -8,67%. O problema é que o diesel subiu 39,51%, e não é a bolsa caminhoneiro que vai resolver o problema do custo do frete ou do trator. O leite longa vida, o principal utilizado pelas camadas mais pobres da população urbana, subiu 77,84%. O feijão carioca 38,85%, e as hortaliças e verduras 24,18%. A farinha de trigo 27,47%, o óleo de soja 18,77%, e o ovo de galinha 12,82%. E não é só a comida que será a vilã da vez. Os produtos farmacêuticos subiram 12,52% apenas até julho deste ano. Roupas e produtos de limpeza pouco mais de 11%. São itens importantes que chegarão ao fim do ano muito acima do índice geral e com um impacto direto na redução do poder de compra do trabalhador e trabalhadora, num cenário em que 78% das famílias estão endividadas e o desemprego continua alto.
O impacto negativo sobre a atividade econômica do aumento dos juros é certo, mas pode demorar a ser percebido. Os indicadores de investimento e atividade estão sempre retratando o passado, com uma grande defasagem dos juros, cujo aumento impacta nas decisões do presente. O mercado está vivendo uma grande incerteza com a eleição e, diante de um grande aumento dos juros, deve contribuir para frear os investimentos e contratações. O campo não está alheio a este movimento. O cenário atual dos juros do Pronaf e um futuro de juros maiores, a escalada do preço dos insumos agrícolas, somado ao desemprego devem prejudicar também a produção e a demanda por alimentos e a agricultura familiar. O que aumenta a importância do Plano Safra, dos juros equalizados pelo governo, e das compras governamentais de alimentos através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). E o agricultor e a agricultora sabem que mal começou o Plano Safra e já falta recursos para atender projetos de custeio do Pronaf em algumas instituições financeiras.
Fonte: Subseção DIEESE/CONTAG - Alexandre Ferraz