Começou hoje, bem cedo e com muita energia, a 7ª Marcha das Margaridas, em Brasília – DF. Centenas de ônibus chegaram ao longo da madrugada desta terça-feira, e seguem chegando, cheios de Margaridas vindas de todo o Brasil para essa potente mobilização.
Logo que chegam, elas fazem o Credenciamento que as registra oficialmente na Marcha, e se acomodam para participarem da agenda repleta de painéis temáticos que dialogam com as pautas que as Margaridas reivindicam em Brasília este ano.
Fotos: Luiz Fernandes
O primeiro dia já começou com uma agenda política muito importante: uma Sessão Especial no Senado Federal, em Homenagem a Marcha das Margaridas, requerida pelo senador Beto Faro (PT-PA). No ato de abertura, a autoridade explicou alguns aspectos da Marcha, incluindo os eixos temáticos da pauta de reivindicações das Margaridas, e ressaltou: “Acredito que cada ponto da pauta dos eixos ser estudado e observado com muita atenção, pois irão nortear nosso trabalho no parlamento em favor da justiça social”.
Mais de 120 margaridas encheram a plenária do Senado para participarem desse momento, e assistiram aos discursos de parlamentares, onde muitos falaram sobre a história de luta de Margarida Alves e das mulheres que viajaram de diversos lugares do Brasil para participarem da 7ª Marcha e representarem as reivindicações de milhões de mulheres do campo, das florestas e das águas.
A coordenadora da 7ª Marcha e secretária de Mulheres da CONTAG, Mazé Morais, foi convidada a discursar na tribuna e deixou um recado das Margaridas: “Enfrentamos anos difíceis, mas nossa resistência e coragem nos trouxeram ate aqui. Apresentamos aos poderes uma pauta de reivindicações que é fruto de diálogos que estabelecemos conjuntamente em nossos territórios. Esperamos que essas Casas [Parlamentares] considerem as nossas demandas e a sucessão das ações previstas no Plano Plurianual 2024-2027, garantindo orçamento publico durante sua efetivação nos próximos anos”.
Representando as Margaridas, também discursou a secretária de Mulheres da Federação de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Estado do Piauí (FETAG-PI), Marlene Veloso. “Hoje e amanhã, aqui em Brasília, somos todas margaridas, mulheres de luta que marcham nesse processo de reconstrução do país, por uma sociedade mais justa e igualitárias. Esse país vai ser reconstruído pela mão das mulheres”, afirmou.
Foto: Rafael Fernandes
Painéis temáticos
A Marcha conta com dois palcos, onde acontecem alguns dos principais momentos da programação neste primeiro dia. Estão previstos quatro painéis temáticos para o dia 15, sendo dois pela manhã e dois pela tarde. Os dois da manhã foram:
- Soberania alimentar e agroecologia como o caminho para a superação da fome, com Maria Emília Pacheco (FASE), Elisabetta Recine (CONSEA) e Fernanda Machiaveli, secretaria Executiva do MDA, como painelistas.
- Reconstrução do Brasil para o Bem Viver com a participação política das mulheres: desafios e perspectivas, com a deputada federal Carol Dartora (PT-PR) e Carmem Silva (SOS Corpo).
No primeiro, que aconteceu no palco principal, foi pontuado a importância dos alimentos que são produzidos a partir da agricultura familiar de base agroecológica, e de como o consumo desses alimentos contribuem para uma melhor qualidade de vida, já que são produzidos livres de agrotóxicos.
Foi pontuado, durante o painel que mediante as argumentações, são imprescindíveis a defesa das cadernetas agroecológicas, bem como programas como o PAA com a modalidade de compra com doação simultânea, mas de modo que não se exclua as agricultoras familiares com a exigência de requisitos burocráticos que dificultem o acesso delas a esse tipo de políticas públicas. "Nós precisamos cada vez mais defender os nossos alimentos naturais e tomar cuidado com aqueles que estão desaparecendo, com alguns exemplos com o caso do cerrado, plantas medicinais para remédios caseiros como o jatobá, estão ameaçados, também o jataí tará, goiabinha do cerrado”, afirmou Maria Emília. “Mas chamo atenção para o papel histórico das mulheres, são elas quem tem defendido os direitos coletivos, que chamam atenção que é preciso conservar aquilo que não foi apropriado de forma capitalista. Elas que se organizam principalmente nas casas de sementes e que domesticam historicamente as plantas", concluiu.
Já no outro painel da manhã, que ocorreu no palco da Concha Acústica, a conversa foi no sentido das mudanças nas políticas públicas necessárias para que seja viável que mais mulheres possam acessar espaços de poder, pois a forma como o sistema patriarcal está organizado implica em grandes prejuízos para as mulheres que buscam acessar espaços de poder com protagonismo e autonomia. E embora haja cota de participação para mulheres na política partidária, ainda é desafiador no que tange à visibilidade delas ainda se apresenta muito machista e racista quando diz respeito ao protagonismo e a visibilidade das mulheres.
"As mulheres não são olhadas como possíveis lideranças, como autoridades”, compartilhou Carol Dartora, “É uma sociedade que sonha tudo para os homens e não sonha pra as mulheres. "Quando a gente ocupa espaço de liderança, é com muita dificuldade com muitas barreiras, a gente tem que provar competência duas, três vezes. Pra tudo que a gente deseja fazer a gente tem que ser muito forte pra lutar porque essa deslegitimação está colocada pra nós”, comentou durante o painel.
Enquanto Carmem apontou algumas questões de desigualdade “O nível salarial das mulheres é muito inferior ao nível salarial dos homens. Ainda há a violência que a gente sofre, dentro de casa e na rua. E controle dos homens sobre nós que é essa condição de desigualdade ela já faz com que a gente entre na política já sendo desigual”.
O período da tarde também contou com dois painéis temáticos interessantes. No palco principal, tivemos o painel “A (re)construçãode políticas públicas para o Bem Viver: mulheres do campo, da floresta e daságuas e as urgências sociais”, e no palco da Concha Acústica, o tema foi “Mudanças climáticas e políticas públicas: como promover a justiça ambiental?”, ambos levando mais oportunidades de reflexão e diálogo sobre questões do cotidiano das lutas permanentes das margaridas.
Outros espaços
Além dos palcos, houve espaços na área do Pavilhão de Exposições onde as Margaridas se concentram, pensados para gerar experiências positivas às participantes, como a Casa de Margarida Alves, onde ocorreram lançamento de livros, espetáculos, exibição de filmes e documentários ao longo de todo o dia.
Mais que isso, também foram promovidas oficinas temáticas e lúdicas, rodas de conversa sobre temas de interesse, tendas de cura com massagens e terapias integrativas, atividades autogestionadas pelas entidades parceiras da Marcha, e apresentações culturais.
Abertura Político-Cultural
Como não podia faltar, a 7ª Marcha das Margaridas contou com uma linda abertura. Houve uma mística artística que relembrou com carinho a jornada de Margarida Alves, e a presença de muitas autoridades, como ministras e ministros, deputados e deputadas, parceiras e parceiros da Marcha.
Algumas das presenças ilustres foram: Cida Gonçalves ministra de Mulheres, Anielle Franco, da pasta de Igualdade Racial, Nísia Trindade, da Saúde, Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima; Ana Moser, do Esporte, Margareth Menezes, da Cultura, Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência da República, Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Wellington Dias do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. As Margaridas, as verdadeiras convidadas de honra desse momento, estavam muito animadas, e contribuíram muito para que o momento fosse ainda mais especial, ao cantarem as músicas de resistência da Marcha e celebrarem cada discurso dirigido a elas.
Pensando nas Margaridas que não puderam vir a Brasília, o ato de abertura foi transmissão ao vivo no Facebook, YouTube e Portal da CONTAG, e no Facebook da Marcha das Margaridas. A transmissão ficou salva e pode ser assistida na íntegra no link abaixo:
Momento de marchar
O momento mais esperado pelas Margaridas a cada quatro anos é o dia da tradicional marcha em direção à Esplanada dos Ministérios, que deve reunir mais de 100 mil mulheres do campo, da floresta, das águas e das cidades. Com suas bandeiras, chapéus de palha, faixas, batuques e toda a garra e energia, as Margaridas percorrerão um trajeto de aproximadamente 6 quilômetros, na luta pela reconstrução do Brasil e por uma sociedade do bem viver.
O anúncio com o resultado das negociações da pauta de reivindicações deve ser feito pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ato de encerramento da 7ª Marcha das Margaridas, em palco montado nas proximidades do Congresso Nacional, a partir das 10h30.